quarta-feira, 27 de julho de 2011

Joana e Amy


Por uma destas coincidências da vida, Joana estava em Santa Teresa, no Rio, quando ficou sabendo da morte de Amy Winehouse, bem perto do hotel onde Amy se hospedou quando passou uma semana no Brasil, no início deste ano. Mesmo sabendo que uma coisa não tem nada a ver com a outra, Joana acabou se sentindo mais próxima da guria inglesa que preferiu morrer.

Joana entende os suicidas, pelo menos aqueles que não têm filhos. Esta aparente explosão de coragem e covardia, este aparente desapego da vida, a vontade de mandar todo mundo tomar no cú levada às últimas conseqüências; desaparecer para sempre. Joana não tem vontade de morrer, mas respeita aqueles que têm. Viver dá trabalho e manter a sanidade, seja lá o que isso for, é mais difícil ainda.

Joana é uma daquelas pessoas privilegiadas que estava no primeiro show da Amy no Brasil. A mídia global diz que foi o melhor, que nos outros ela errou a letra e deixou o palco cedo demais. Para Joana, foi um dos melhores shows da sua vida e continuaria sendo se a artista caísse no chão. O sofrimento dela era parte do show, assim como a voz, o cabelo, as tatuagens, tudo exposto sem meio-termo.

Joana entende os suicidas, mas acha que as vezes eles se precipitam; afinal, a vida pode ganhar uma segunda, terceira ou quarta chances. Aos 27, talvez Amy ainda não tivesse percebido esta possibilidade.

A foto é de uma amiga de Joana, que chegou em Londres no dia da morte da Amy.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Catarse


Ela aproveita que está sozinha em casa, meio alterada, abre o computador e pensa na semana, difícil como sempre, mas mais fácil perto do que poderia ter sido. Ela acaba de voltar de um encontro com amigos para sempre e, talvez por isto, se sente feliz e melancólica ao mesmo tempo. Com medo e com coragem.

Tudo o que Lorena queria agora é um cigarro; acende e fuma com prazer. Na noite passada, ela esteve perto de uma viagem astral ou crise de pânico, depende do ponto de vista. Mas era como se Lorena estivesse se enxergando de fora, como se fosse outra pessoa, como se estivesse provocando a sede até não aguentar mais. Ela agüentou, mas em algum momento duvidou se seria capaz. E chegou a pensar no que aconteceria se ela, mesmo de fora, não conseguisse controlar a si mesma.

Ela acordou exausta, sentindo no corpo o esforço psíquico da catarse. Curiosa, bota catarse no Google e fica sabendo que, para Aristóteles, esta descarga emocional “refere-se à purificação das almas, provocada por um drama”. Lorena fica impressionada por este conceito ser de 300 AC. Logo ela, que não acredita que este tempo existiu.