terça-feira, 31 de março de 2009

Semana

Exausta, ligada e sem tesão. É assim que Cristina está nesta noite. Sentada na cama, ela não pensa em sair, não está com a mínima vontade de tomar uma cerveja e só pensa em escrever. Sobre os encontros combinados para a semana.

O problema é que ela já marcou três encontros para os próximos cinco dias. Cristina anda assim; topa todas, mas ela tem que estar com vontade. Pelo menos, com boa vontade.

Talvez nada aconteça e ela fique em casa, talvez dando graças a deus. Talvez ela vá em todos os encontros marcados e surjam outros inesperados.

Cristina é eclética, pouco seletiva ou uma puta mesmo. A ela não interessa esta definição. Todas as pessoas e situações, a princípio, são uma aventura incerta mas atraente. O problema é quando tudo isso deixa de ser uma aventura, as dúvidas são proibidas e a atração vira obrigação.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Quem?

Exausta, podre, sonolenta, mas com tesão. É assim que Cristina está nesta noite. Deitada na cama, pensa em sair, tomar uma cerveja, mas a preguiça é maior. Como consolo resta o encontro combinado pra amanhã.

O problema é que ela já marcou dois encontros para amanhã. Cristina anda assim; não deleta nada. Na hora, ela resolve. Às vezes, nada acontece e ela fica em casa, às vezes dando graças a deus. Às vezes, todo mundo liga junto e ela administra, conforme o momento.

Cristina gosta de todos seus mini-casos e tem dúvidas se trepar com um cara durante um, dois anos, pode ser chamado de mini-caso, já que tem intimidade, carinho, identidade e tesão, acima de tudo, tesão. Talvez sejam casos verdadeiros, apenas com limites estabelecidos. Ela também não sabe quem demarcou esta fronteira; se foi ela ou se foram eles.

terça-feira, 17 de março de 2009

Extremos

Chego à conclusão que Helena gosta de um certo tumulto na vida. Quando tá tudo bem, tudo certinho, ela detona alguma crise. Quando não detona, se mete em alguma que surge por perto. Ela é feliz, mas parece que este sentimento está sempre sendo posto à prova.

Helena me jura (sem muita convicção, é verdade) que são os outros que tumultuam a vida dela. Que as pessoas abusam da boa vontade que ela tem com elas. Que as pessoas acham que podem fazer qualquer coisa e e que isto não terá nenhuma consequência. Que as pessoas acham que ela vai aguentar tudo sempre.

Helena me jura que não se considera vítima, só uma idiota.

domingo, 15 de março de 2009

Loucas (elas são)

Antes que tu perguntes, esta é uma tentativa de reaproximação. Inútil, provavelmente, como todas as outras. Eu sou louca, elas são loucas, mas não conseguimos ficar longe de ti.

O mais estranho (sentimento indefinido demais pra mim)é que, mesmo sabendo que tu vais embora, continuo tentando, me expondo à rejeição.

Meu psiquiatra diria que não quero me livrar do abandono, sentimento que faz parte da espinha dorsal da minha vida. Eu acho que está certo.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Verdade

Uma certa inquietude toma conta de Paula. Ela não identifica bem o que é, se é ansiedade, euforia, medo ou histeria.

O certo é que ela não está tranquila. Parece que tem que conseguir alguma coisa impossível. Ela se sente forte, mas tem medo que isto não seja verdade; ela se considera fácil e tem medo porque sabe que isto não é verdade.

Aliás, a verdade é praticamente uma obsessão para Paula. Ela gosta de estar ao lado da verdade, mesmo que, às vezes, isto seja um erro, que a verdade seja algo totalmente questionável e até mesmo condenável.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Decepção

A decepção é sempre difícil para Flávia. Claro que, agora, ela sofre muito menos do que há dez, vinte, trinta anos atrás. Aos 16, talvez, tenha sido o auge. Ter que se impor pra não se fuder foi foda. Aos 26 e aos 36, ela também lembra de sofrer bastante. Aos 40, parou de sofrer. Foi uma decisão racional. Tava de saco cheio de sofrer. Só abre exceção quando é muito grande a decepção.

Flávia teve uma enorme decepção na semana passada. Mas o sofrimento deu lugar a uma raiva maior que a decepção. Tem a impressão que, a qualquer momento, o Hulk pode assumir o lugar dela e fazer todo o estrago que ela acha que tem que ser feito, que ela queria fazer, mas é detida por um sentimento de superioridade que ela odeia.

Nestas horas, pensa, nada como a velha e boa chinelagem. Mas ela gosta de ser coerente com alguns mínimos princípios e resolve ignorar. Mas a vontade de detonar continua. Na verdade, ela tem passado os dias controlando esta vontade. E tá conseguindo, ainda bem.

domingo, 8 de março de 2009

Primeiro mundo

Dia internacional da mulher. Talvez esta seja a razão de Luíza ter passado o tempo todo pensando em pau, paus, pra ser mais exata. Não, eu acho que pau é mais verdadeiro. Afinal, era em um pau em particular que ela estava fixada.

Tamanho, espessura, cor e cheiro perfeitos. Ereção também perfeita, rápida, com vigor. Ela me diz que o dono deste pau também é um homem bacana, inteligente e sexy, mas que o pau do cara supera todas estas outras qualidades.

Ouvindo Luiza falar é impossível não ficar com vontade de transar com este cara. Pau decidido. Pau bonito. Pau gostoso. Pau bom de chupar. Pau bom de entrar na gente. Tudo isto e mais um pouco Luiza me garante que o cara tem. Pau de primeiro mundo.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Mais do mesmo

Os sinais e as razões que um homem dá quando quer se livrar ou - fazendo uma concessão sentimental - se afastar de uma mulher, sempre são os mesmos, mas variam na embalagem. Estes dias, um amigo meu chegou a dizer que brigou com a namorada porque ela usava calça pescador, peça que ele odeia.

Pra mim, a tradução disto é óbvia. O cara tava louco pra pular fora da história e começou a implicar com uma besteira total. Bem, é claro que ele não falou isto para a moça - pelo menos eu acho - mas parece convencido de que isto é verdade.

Um outro amigo meu, que tava voltando a se aproximar da ex-mulher, desmarcou um encontro que eles tinham combinado há umas duas semanas. Primeiro, ele alegou um compromisso de trabalho e ela disse que tudo bem. Depois, ele a chamou conversar e ficou horas falando do trabalho. Ela estranhou o entusiasmo; nos últimos tempos, ele sempre ficava deprimido quando falava de trabalho.

Quando o cara fez uma pausa para tomar um gole de vinho, minha amiga mudou de assunto e falou do show. Ele disse que era disso mesmo que ele queria falar e, depois de um outro gole de vinho, falou que tinha outra programação, um eufemismo pra dizer que ia comer outra mulher.

Minha amiga reafirmou que tudo bem. Ele insistiu, dizendo que a situação era confusa. Ela respondeu que pra ela não tinha confusão. E ficou com uma nítida impressão de que do outro lado houve decepção. Que o cara tava procurando um álibi para fugir da relação.

domingo, 1 de março de 2009

Bifocal

Até quando uma mulher, eu, especificamente, despertará tesão em um homem? Eu admito que tenho medo deste dia. Não por coincidência, diria um amigo meu, hoje fui ver um filme onde uma mulher de uns 50 e poucos anos diz que está ficando velha, que os homens já não a olham como antigamente.

Eu tenho 46, mas ainda não percebo esta indiferença. Mas outros sinais da idade me incomodam. Ter que usar óculos no motel para enxergar as funções daquele monte de botões e alavancas é meio constrangedor, se a pessoa que te acompanha é bem mais jovem. Se é um cara da tua idade, é meio cômico, nenhum dos dois enxerga nada. Se é um cara bem mais velho, além de não enxergar nada, o cara acha que a obrigação de enxergar é tua, que é bem mais nova.

Pior ainda é ter que trocar de óculos se quiser ver tv. Eu não deveria ter ignorado quando meu oftalmo disse que era o caso de um bifocal.