quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Tempo


Ela não sabe se é a idade – é provável que seja, afinal perto dos 50 as pessoas costumam dizer que já estão jogando o segundo tempo, a metade final, mas o fato é que ela tem pensado muito nas escolhas que precisou fazer na vida e em como as - poucas/muitas/como medir isto? – opções erradas atrapalharam lá na frente, quando não dava pra mudar mais nada.

Ela sempre achou isto uma injustiça, fazer uma merda que vai ser decisiva logo ali adiante e não poder voltar atrás; ter que carregar este (s) esqueleto (s) o resto da vida, pensando que, se tivesse seguido outro caminho, tudo seria diferente. É uma pena que o se não existe; o tempo não tem marcha à ré.

Só que às vezes o imprevisível acontece e a gente recebe uma espécie de indulto por ter sido uma completa idiota. No início, ela não estava acreditando muito naquilo, achou que era mais uma pegadinha da vida de quem já se considerou a criança mais infeliz do mundo e que se acostumou a provocar abandonos para não ter que ser surpreendida por eles. Se desta vez o amor vai se distanciar da dor, só o tempo dirá. Mas ela gosta de pensar que, agora, não vai se arrepender depois.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Só as clássicas


Ela sabia que o caso era terminal, estava preparada, mas tinha esperança que acontecesse um milagre, que a justiça do merecimento, desta vez, fosse mais forte. Mas tudo aconteceu conforme o previsto e ela perdeu.

Minha amiga, coitada, vive fazendo diagnósticos sem noção da realidade; está sempre acreditando no impossível. Agora, me contando isto, ela associa esta mania à doença da mãe, que morreu quando ela tinha oito anos. Ela sabia que a mãe não ia resistir a um câncer, mas confiava que no final elas conseguiriam enganar a morte. Na verdade, quem ia salvar a mãe era a minha amiga. Um caso clássico da megalomania infantil.

Os anos passaram, a megalomania foi substituída por uma leve bipolaridade entre a euforia e a depressão, mas esta característica continua lá, intacta; minha amiga achando que vai salvar alguma coisa, até mesmo a humanidade. Talvez um clássico caso de demência senil.

Eu juro que gostaria de chamar este post de Pequeno Ensaio sobre a Cegueira, mas acho que aí seria um caso clássico de...o quê mesmo? Esquizofrenia juvenil, deve ser este o problema.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Diálogos


Mãe – Sai desta cama, o Mubarak caiu, a revolução tá nas ruas
Filho – A revolução vai ser televisionada
Mãe fica sem resposta

Mãe – Porra, tu tomou toda a minha cerveja!
Filho – Tu tá abrindo um precedente para instaurar a propriedade privada nesta casa?
Mãe fica sem resposta

Amigo de filho, ao entrar pela primeira vez na casa do pai do guri e se deparar com centenas de livros
- Teu pai é comunista?
Outro amigo, diante de um altar caseiro, no meio da biblioteca, com velas, imagens de orixás, fotos da família e outras lembranças que o dono da casa considera sacras
- E reza...
Filho fica sem resposta