segunda-feira, 25 de maio de 2009

Solteira II

Leia, amiga de muitos anos, leu o post anterior e me ligou. Ela é uma solteira feliz e quer dizer ao mundo que isto é possível. Apesar de hoje não estar me sentindo muito bem - e isso quer dizer que eu não quero botar lenha nesta fogueira - ouço pacientemente. Inclusive, sugiro que ela escreva sobre isto e publique aqui. Ela promete pensar.

O que deixou Leia tão bem, na verdade, começou num baita revertério físico e psíquico. Primeiro, ela começou a se sentir indisposta e desanimada. Depois, a sensação desagradável foi aumentando, o corpo todo doendo, um misto de febre, frio, naúsea. Este mal-estar afetou o lado emocional. E Leia começou a questionar a sua vida. Tudo que é bom, ela botou defeito. E tudo que é mais ou menos (não tem nada horrível) virou uma tortura crescente.

Hoje, Leia acordou melhor. Ainda meio fraca fisicamente e desgastada emocionalmente. Mas quando lembrou do dia de ontem, uma sensação de tranquilidade surgiu. Doente, ela não sentiu falta de um marido. Carente, também não.

sábado, 23 de maio de 2009

Solteira

Mulher solteira tem que ser gostosa, me grita uma amiga minha do carro logo depois de me deixar em casa depois uma divertida noite a duas. Subo as escadas rindo e pensando na trabalheira que a vaidade dá e que, na medida em que o tempo avança, a obrigação de ser gostosa deve virar uma baita frustração.

Minha amiga não quer saber de filosofia, quer mesmo é ser admirada. Pra ela, a indiferença, sim, é um problemão. Está sempre pronta para um novo encontro. Depilada, maquiada (ou com necessaire completa na bolsa), calcinha de rendinha, pés e mãos pintados e a fim.

Concluo que a gente é muito mais parecida do que eu sempre achei. Eu também ando sempre depilada, pelo menos com um rímel, odeio calcinha velha e, faça chuva ou faça sol, vou na manicure uma vez por semana. A diferença é que nem sempre eu tô a fim.

domingo, 17 de maio de 2009

Marcas

Minha mãe era uma desobediente. Uma mulher marcante pela personalidade e beleza. A história que talvez melhor simbolize a sua força seja quando, horas antes de morrer, rejeitou a extrema-unção e, furiosa, expulsou o padre do quarto.

Eu já imaginei esta cena algumas vezes. Minha mãe não estava conformada com a morte, por isto recusou o ritual final que o padre foi cumprir. Achava que era uma hipocrisia se render naquela hora em que queria viver. Achava uma injustiça morrer e deixar três filhas pequenas sem mãe.

Hoje, eu agradeço à minha mãe a filha que eu tenho. Uma outra mulher marcante pela personalidade e beleza. Hoje, de certa forma, a Mariana agradeceu à minha mãe a mãe que ela tem. Ela cantou a música 'Lulu' ali no meio da Redenção. Entre um povo espalhado, alguns amigos me abanavam emocionados. Eu olhava a Mariana e pensava na minha mãe. E na mãe que um dia a Mariana vai ser. Corajosa e verdadeira. O resto se ajeita.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Pensamento

Ela não sabe que horas são, só que é tarde, que bebeu um pouco além da conta e que amanhã será um dia difícil. Mas ela está feliz.

Tudo por causa daquele telefonema que ela achava que nunca mais ia rolar, mas estava enganada. Minha amiga tem esta mania, é uma mulher fatalista. O cara passa uma semana desaparecido (neste caso, foi bem mais, é verdade) e ela acha que a história dançou. Sem traumas.

Várias vezes ela tinha pensado em acabar com o silêncio e ligar. Mas dominou a ansiedade e respeitou a distância do seu amigo. Ela resolveu estabelecer uma conexão total com seu desejo, acreditando que o pensamento positivo poderia dar certo. E o telefone tocou.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Prioridades

Eu já tinha desistido, me conformado, pendurado as chuteiras, mas o cara bateu na minha porta, me conta uma amiga minha, confessando que está envolvida com um homem que não sabia que ela tinha decretado o encerramento da sua vida sexual e afetiva.

Eu não tive tempo de falar nada e ela continuou, dizendo que o cara era agradável, pequeno empresário e cozinhava tri bem. Estranhei que o sexo não figurasse entre as qualidades do rapaz e perguntei se a transa também era legal. Ela foi sincera:

-Não priorizo mais o sexo.

Uma outra amiga minha me contou uma história parecida. Cansada do rudimentar mundo masculino, se auto-exilou. Até que um vizinho bateu na sua porta e quase no mesmo dia começaram a namorar. Imagino que só uma atração sexual irresistível poderia explicar esta aproximação instantânea. Mas estou errada. Ela já sabia que eu ia perguntar e se adianta.

-Ele é devagar na cama.

Diante da minha cara de espanto, ela anuncia:

-Não priorizo mais o sexo.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Sonhos

Jô ainda lembra do seu primeiro amor impossível. Ela estava na 5a série, tinha dez anos e o nome do guri era Alexandre. Ela lembra, inclusive, o sobrenome, mas prefere ocultar. Vai que ele lê e fica sabendo que, 36 anos depois, ela ainda lembra dele.

O Alexandre era o gostosão do pedaço, se é que isto é possível aos dez anos de idade. Tinha olhos azuis maravilhosos. Enormes. Andava como se tivesse o rei na barriga. Jô até tá achando que o guri era meio barrigudinho, meio troncudinho.

Ela suspirava e o Alexandre esnobava. Aí ela também esnobava, mas o Alexandre nem notava. Ela se irritava. Quando chegava neste ponto, parecia que o Alexandre começava a se divertir. Ela notava o joguinho. As crianças não são tão inocentes assim.

Depois do Alexandre, minha amiga teve muitas paixões que considerou impossíveis. Mas este foi o único que permaneceu platônico. Deixando a infância de lado, todos os outros, que começaram no sonho, acordaram do lado dela. E às vezes por muitos anos. Era isto o que ela mais queria agora. Que este homem que a faz sentir a mulher mais especial do mundo não desaparecesse justamente nesta hora.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Situações

Um amigo meu morreu, dois estão se destruindo e um desapareceu. Eu não sei o que lamento mais.

Eu já passei por situações que beiravam esta destruição, quando um homem e uma mulher estão empenhados em detonar um ao outro e tudo mais o que encontrarem pela frente. Eu digo beiravam porque o sentimento que me movia não era do mal. Mas gerava o mal.

A experiência tem que servir para alguma coisa e hoje eu fujo destas relações. Às vezes demora um pouco, mas eu forço ou aproveito uma brecha para sair correndo ou à francesa.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Calcinha

Renata adora uma calcinha, então considerou a proposta de deixar que fotografassem a sua calcinha irrecusável. A fotógrafa tinha a incumbência de fotografar só as calcinhas de mulheres no banheiro feminino. Elas escolhiam se levantavam a saia ou baixavam o jeans; a única exigência era mostrar a calcinha. Renata tirou logo a saia.

Ela posou com segurança. Por sorte, estava com uma calcinha nova, preta com bolinha branca, com lacinho do lado, um corte que favorecia o corpo, pequena mas confortável, sensual sem exageros.

Quando Renata viu a foto, foi um choque. Todas as suas dezenas de anos estavam retratadas minuciosamente naquele triângulo. Ela não se lembra se já tinha tirado um close desta região; acha que não.

Se deparar com a dura realidade é educativo, se bem que neste caso ela gostaria que o photoshop transformaase esta foto em outra. Viva a realidade virtual.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Tentativas

Justiça seja feita, Adriana tentava estabelecer algum tipo de relação mais estável com o sexo oposto. Mas era quase impossível passar do primeiro mês. Quando passava, era porque os dois se viam uma vez por mês. Bem, algum tipo de relação estável foi formada.

Já teve o cara que tomava vodka assim que acordava; o que não queria dividir coca-cola com os filhos dela; o que via vultos do mal quando entrava na casa dela; o que disse que ela estava se insinuando para o DJ porque ela estava dançando numa festa; o que mandou ela abrir a buceta e reclamava do jeito que ela transava;

o maníaco por limpeza; o que pedia dinheiro emprestado não queria pagar; o que achava que nunca precisava pagar nada; o que transava com todo mundo mas queria fidelidade; o que broxou todas as vezes e reclamou porque ela queria gozar; o que a mandou calar a boca na frente dos amigos.

Talvez precisasse de mais uns dois parágrafos pra completar a lista dos tipos exóticos e mal educados que Adriana namorou nos últimos tempos, mas vou parar por aqui em respeito a boa vontade de Adriana com os homens. Ela não vai desistir.