sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Esperança

Luciana teve que admitir que não tava preparada para a pouca vontade de transar que o namorado demonstrava; o cara ou tava cansado, ou broxa, ou meio-broxa, ou meio-bêbado ou não gozava. A situação estava ficando complicada. Ela realmente tinha se enganado com aquele homem.

O gozado é que ela tinha certeza que o namorado era daqueles que ela poderia contar pra transar bastante, se sentir gostosa, fazer pequenas sacanagens, nada que adolescentes não façam neste milênio, rir, gozar, senti-lo gozar. Mas ela, mais uma vez, errou.

Luciana demorou para se conformar com a realidade. Afinal, o cara provocava nela a sensação oposta. Toda vez em que eles se encontravam, a primeira coisa que vinha no corpo dela era transar. E com os últimos homens que provocaram tanto a sua libido quem sempre teve que pedir para parar foi ela.

Minha amiga tem tentado racionalizar; afinal ela e o namorado têm outras afinidades existenciais e filósoficas. Talvez ela deva parar de pensar tanto em sexo, mas isto significa que ela vai ter que se transformar em outra pessoa e ela gosta do que é.

O mais estranho é que quando tudo funciona do jeito que ela queria que fosse sempre, a transa é perfeita; palavras e movimentos certos na hora mais certa ainda. Orgasmos de fazê-la ter ter certeza de que o paraíso existe e que ela está lá no meio. Também por isso ela ainda espera que alguma coisa aconteça e seu namorado note o seu desespero.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Lições

Patrícia para em frente a uma banca de revistas e dá de cara com uma Cláudia. Na capa, a chamada "Lições de amor e sexo de casais felizes" lhe provoca risos. Será que a humanidade está condenada a viver esta eterna ansiedade?

Por mais absurdo que pareça, Patrícia se sente tranquila em relação a estes assuntos. Ela transa com quem quer - tá certo, às vezes até com quem não quer (muito)- se apaixona de vez quando, esquece quando não vale a pena, recai quando é convencida, foge quando é preciso, mas isto é raro de acontcer. Eles fogem antes.

Talvez, a principal fragilidade de Patrícia em relação ao amor e ao sexo seja sua ingenuidade. Talvez ingenuidade não seja bem a palavra, mas ela ela é uma pessoa fácil de ser enganada. Os homens logo percebem esta característica. E abusam. Ela nunca acha que é abuso. E se engana. Não é o caso de comprar a Cláudia, mas aí tá uma coisa que Patrícia ainda tem que aprender.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Sapos

Quando era adolescente, Karem gostava dos guris impossíveis, aqueles confirmados. Ela lembra de ter namorado dois deles. Ela mal acreditava que - sem mexer uma palha, se a gente considerar toda a obrigação de seduzir que os tempos modernos impõem -tinha conquistado seus objetos de desejo.

Adulta, Karem continuou com esta mania, mas abriu exceções. Afinal, os normais também têm seu charme. Já perto dos 50, ela aprimorou sua preferência e passou a se interessar pelos absolutamente impossíveis, não pelos mesmos motivos dos guris da adolescência. Os impossíveis de agora estão muito mais pra sapos do que pra príncipes. Sapos metidos a principes, mas sapos.

Karem está tentando assimilar que os absolutamente impossíveis são um caso perdido, eles não vão mudar nestas alturas da vida. Pelo contrário, eles se orgulham do que são: se eles broxam é porque não são apenas um pau; se furam algum encontro é porque são humanos, se não têm dinheiro é porque não se venderam ao sistema; se dão em cima até nas amigas da filha é porque estão com a testosterona em alta; se estão se comportando igual a um menininho de dois anos (vá lá, cinco) é porque são sensíveis.

Karen achava que uma das inúmeras desvantagens de estar chegando aos 50 é que até os absolutamente impossíveis estavam perdendo a graça. Mas aí surgiu um feito sob medida pera ela. Seu mais impefeito par perfeito.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Idiota

Ressaca moral é foda. É assim que Milene se sente hoje. Arrependida de tentar explicar uma coisa para um homem. De se expor - como sempre - de ser viciada em sentimentos idiotas.

Quase todas as vezes em que Milene ficou puta com um homem - os importantes, é lógico - eles tentaram convencê-la de que estava louca, exagerando, vendo cabelo em ovo, maximizando coisas sem importância.

Milene se considera tolerante, mas tem fama de intransigente; se acha generosa e seus namorados a acusaram de egoísta; prefere a verdade à mentira, mas mente se a situação exigir. Acha isto uma vantagem; afinal quem só aceita a verdade só se fode.

Aliás, vem daí a ressaca moral. Necessidade besta de dizer a verdade.

Quanto amadorismo!

domingo, 15 de novembro de 2009

Amor

Na frente da TV, aproveito para curtir uma novelinha pós Jornal Nacional, mas tenho o azar de pegar um capítulo tão insuportável que eu resolvo levantar da cama e arrumar o quarto. São cenas intermináveis de casais falando idiotices que representam o amor.

Ainda tenho dúvida sobre se todos os casais são canastrões ou só aqueles que acreditam no amor. Também já não sei se entendo alguma coisa do amor. Admito que o meu egoísmo pode ser tão grande quanto a minha generosidade e que a solidão talvez seja uma solução.

Só que eu olho para o teu lugar na cama e penso como seria bom se, justamente hoje, tu estivesses ali; aqui. Minha auto-suficiência quer companhia, tenho vontade de transar contigo antes de dormir e transar de novo ainda dormindo antes de acordar.

Lembro das vezes em que valeu a pena te buscar de madrugada só pra gente transar e dormir pouco e acordar exausta mas feliz. E passar o dia se arrastando.

Gosto do teu braço e lembro que tu gostas das minhas pernas. Eu gosto de entrar no quarto e te ver dormindo, de tomar café da manhã correndo porque antes eu fiquei desfilando de calcinha; gosto quando tu me deixas no trabalho e promete que qualquer dia vai me levar dali no meio da tarde, mesmo que este dia nunca chegue.

Tem as coisas que eu não gosto também; mas estas eu acho que já sabes.

(Im) potência

Marcos já tinha transado com as duas irmãs de Laura e ela seria a próxima, sem dúvida. O psicólogo, massagista, terapeuta corporal, professor de biodança e adepto de outras teorias que por trás tinham a mesma filosofia, estava decidido a transar com as três irmãs e elas tinham combinado dar. E depois conversar.

Primeiro foi a Flávia, que ficou maravilhada. Depois, a Fernanda, que confirmou que o cara era um fenômeno na cama. Quando chegou a sua vez, Fabiana estava preparada para tudo, até para o cara broxar, situação que já comum na vida dela, mesmo naquela idade, aos 20 e poucos anos.

Vinte poucos anos depois Fabi acorda pensando naquela época. O namorado, do lado, tá com jeito de quem ainda vai dormir bastante. A noite foi forte. O sexo, com Alexandre, é realmente recompensador, graças à potência de meio Viagra à tarde e mais meio à noite.

Entre Marcos, Alexandre – e mesmo antes do primeiro, muitos homens broxaram com Fabiana. Eles de pau mole e ela gozando na perna, na mão, na boca dos caras. Ela nunca acreditou que não funcionava. Hoje ela acordou pensando que gostar de broxas não deve ser uma coincidência. Talvez seja uma forma torta de autoafirmação. Homens precisam fracassar para ela se sentir a tal, mesmo que o fracasso deles implique na desconfiança de que a culpa é dela. Um homem humilhado seria uma espécie de vingança por todas as coisas que também não funcionam nela.

Bobagens

Quase duas horas da manhã e eu com aquela sensação boa do dever cumprido. Achei que ia ser um dia arrastado, quase improdutivo, mas me enganei. Fora a aula de inglês, que eu não fui, e as três cervejas antes de ir para casa, tudo contrariou a premonição do começo.

Olho para o teu lado na cama que ta dominado pela minha bagunça e gosto de pensar que tu tens um lado que eu ocupo quando quero. Hoje tem roupa, livro, jornal, creme, isqueiro, chave, bolsa, anel, celular e saudade de ti.

Vou deixar o teu lado vazio e esperar que tu preenchas todo espaço mais tarde. Se não, boto tudo de volta. Vou ficar quieta em companhia dos meus objetos inanimados, perturbada com a ausência, braba com a insistência e feliz com a resistência.