terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Finais

É muito bom tomar champanhe em plena terça-feira. Cláudia controla a vontade de abrir mais uma garrafa. Afinal, os amigos já foram embora e qualquer gole a mais, agora, só vai piorar o dia de amanhã.

Mas ela bebeu o suficiente para se divertir com a própria situação. Cláudia não dá uma dentro quando o assunto é homem. A última vez em que ela acertou foi, sei lá, há mais de vinte anos. A prova mais recente da sua sucessão de equívocos aconteceu há minutos. Seu até então namorado foi embora dando a entender que não pretende mais voltar.

Só que, duas semanas atrás, ele estava quase jurando amor eterno. Ele dizia que finalmente tinha encontrado uma namorada que combinasse tanto com ele. Cláudia até achava que eles não combinavam tanto assim, mas acabou acreditando que aquele amor era predestinado.

Santa ignorância. É por isso que Cláudia ri agora, morrendo de vontade de encher a taça vazia pra rir mais ainda desta mania - ou necessidade - de achar que o impossível vai acontecer. Como dizia um amigo meu, não adianta esperar outro desfecho; o titanic sempre afunda no final.

A notícia boa é que Cláudia sempre se salva; a ruim é que ela não se traumatiza com barco à deriva.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Explosão

Há muito tempo Suzana não se sentia tão de saco cheio de tudo. Ela, que adora o clima festivo do natal, final de ano e férias, desta vez está desanimada. Até tá pensando em pedir uma telepizza para a ceia do dia 24. O importante é champanhe e acompanhamento de boa qualidade e isto ela já providenciou.

Suzana não sabe como a situação chegou a este ponto; ela sempre procurou ser uma pessoa do bem, solidária, compreensiva e todas estas coisas que a gente sabe que tem que praticar na vida. Mas cansou. Hoje, as únicas pessoas que ela admite fazer concessões são seus filhos. Ah, e para o seu treinador também.

Suzana tá com uma raiva em ebulição dentro dela. E isto é perigoso. Ela tem vontade de fugir, de mandar todo mundo tomar no cú - isto ela tá fazendo - e de dizer todas as verdades que as pessoas precisam ouvir na cara delas - isto ela tá fazendo com moderação. E, talvez por isso, a fúria seja tão grande.

Suzana vai tentar reagir; ela não quer sucumbir ao desprezo pela humanidade. Só que, nesta hora, ela tem vontade de pendurar uma placa de advertência no pescoço: mantenha distância, a gota d'água pode sacudir placas tectônicas e nada mais será como antes.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Segunda

Esta segunda-feira tinha tudo para ser um dia insuportável. O fim de semana não foi dez e hoje a chatice começava cedo; às 8h da manhã eu tinha estar numa sala de aula, com as cadeiras em posição de prova - a professora exigiu - apenas para assinar a minha, já que eu abandonei o curso lá pela metade. Mas pra não perder a vaga, tive que aceitar as normas da direção.

Aí eu já notei uma coisa diferente. Assim que pisei na rua, minha contrariedade passou. Fui caminhando e observando. É raríssimo eu estar na rua nesta hora. Cheguei no curso, assinei a prova, ouvi a professora dizer duas vezes em alto e bom som que eu estava rodada, respondi que sabia, desejei feliz natal a todos e voltei pra casa. Escolhi o lado do sol e cheguei a cogitar começar a caminhar no parque bem cedo, todos os dias.

Liguei o computador e um e-mail do meu chefe ameaçava estragar o dia de vez. Ele estava propondo agumas mudanças em um material que eu tô editando e que deveria ir pra gráfica hoje. Marcou um encontro às 14h. Às 15h, eu tinha três exames médicos marcados; às 17h tinha que cobrir uma reunião e às 20h aula com meu professor de musculação, quando combinamos iniciar umm treino mais forte; projeto verão 2010. Pra arrematar, depois da academia fui obrigada ir no super; não tinha nem água na minha casa.

Cumpri toda esta agenda sem me estressar um minuto sequer. No final, tudo deu certo e agora aqui tô eu, pensando o que diferencia estes dias daqueles em que tudo dá errado. E eu ainda esqueci de dizer que perdi a chave e que estava a pé; meu ex-marido tinha pedido o carro emprestado para ir a Caxias apresentar um trabalho.

Vou dormir feliz, mais ainda porque a segunda-feira acabou bem. Terça, sempre é mais fácil.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Sexo

Meia-noite. Chego em casa acendendo todas as luzes, ligando a TV, o computador, a ponta. Me atiro na cama sem saber direito o que vou fazer. A possibilidade de dormir direto está descartada. A conversa com uma amiga com quem combinei um almoço continua me dando o que pensar.

Gisele parece estar passando pela crise dos 30, dos 40 e dos 50 ao mesmo tempo. Pelo primeiro e pelo segundo trânsitos de saturno. Ela tem angústias de mulheres de todas estas fases e o pior; se identifica com as de 25.

Gisele gostaria de ainda estar atraindo os homens de 25, mas tem consciência de que isto não faz parte da ordem natural das coisas. Só que o sexo ainda é tão presente na sua vida quanto há 20 anos atrás; talvez até mais porque naquele tempo tinha muita energia concentrada nos filhos.

É óbvio que tem dias em que Gisele nem pensa em transar, dias em que os homens são seres assexuados. Mas, em compensação, tem outros que até aqueles manequins, em loja de langerie, a deixam excitada. Hoje mesmo, ao escrever enxotar, fazendo palavras cruzadas, sentiu logo aquele calor; imediatamente associou à xoxota.

Ontem, uma amiga, uns dez anos mais velha, disse pra ela se tranquilizar, que, aos poucos, isto ia passar. Outra, da mesma idade, disse, com a maior calma, que não transava há três anos. Raramente, ela pensava em sexo e, assim mesmo, muito rapidamente.

Gisele percebeu que aí está o verdadeiro problema. Ela não quer que isto passe.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Azar

Num ataque de Polyana, Lena pensa que seus fracassos afetivos pelo menos rendem boas histórias. Agora, ela vive uma situação inusitada; uma crise no namoro.

Desde que seu último casamento acabou, Lena teve alguns casos e poucos namoros. Dois ou três com este status, talvez. Quando acabou, foi de uma vez só. Não teve aquele fim arrastado, típico dos casamentos em fase terminal. Agora, tá sendo diferente. O namoro entrou em crise e ela não sabe o que fazer.

Decretar o fim não deixaria Lena mais feliz, continuar como tá também não. Esperar que tudo piore, ela sabe que é pura idiotice.

Mesmo descrente do amor, Lena acreditou neste encontro, que não aconteceu do nada. O consolo de ter assunto para mais uma boa história, desta vez, não tá sendo suficiente. Lena está triste. Pagou pra ver e se fudeu. Mas não teve medo. Lena sabia dos riscos que corria. Perder era uma das possibilidades.