segunda-feira, 27 de abril de 2009

Peixe

Sozinha no meu quarto, só ouço o barulho da brasa queimando e uns latidos bem longe. A televisão tá desligada, meu filho dormindo, os vizinhos quietos.

É um silêncio que contrasta com a minha gritaria interna. É preciso contê-la e por isso eu me refugio na minha cama e ligo o computador.

Na verdade, eu tô insatisfeita. Pelo menos, com o dia de hoje. Fiz um trabalho que não gostei, desconcentrei total numa aula de inglês, não fui na ginástica, comi demais e ainda disse umas verdades. Talvez eu também tenha sido mal interpretada em uns telefonemas, mas só amanhã eu vou ter certeza.

O problema não é estar insatisfeita, mas deixar claro pra todo mundo que o mar não tá pra peixe. Hoje eu tô assim; sem mar e me sentindo um peixe.

domingo, 26 de abril de 2009

Avatares

Eu e meus avatares. Foi assim que um amigo meu definiu este blog. Eu logo notei que o cara tinha uma sensibilidade extra para o sexo feminino. Poucos homens seriam tão perspicazes.

Meu amigo tem razão; eu poderia ser todas estas mulheres. As histórias de todas as mulheres são muito parecidas.

Ou eram. Minha filha, por exemplo, se empenha em construir uma história diferente da minha. Casada há bastante tempo para quem tem apenas 24 anos, ela pensa no relacionamento a longo prazo. Apesar do meu último casamento ter durado 12 ou 13 anos na mesma casa e mais uns seis anos em casas separadas eu não me lembro de fazer estes planos.

Eu nunca acreditei que ficaria tanto tempo casada, talvez por isso não fizesse planos. Eu fico em dúvida se era baixa auto-estima ou excesso de autosuficiência, desapego ou medo da dependência, mas eu sempre boicotei o amor eterno. O que não quer dizer que sofri menos do que aquelas que acreditam em príncipes. É que os meus já chegaram com cara de sapo.

sábado, 25 de abril de 2009

Sorte

Tudo era perfeito. A casa, a toalha, o edredon, o chuveiro bem quente, a temperatura do quarto. O morador, principalmente. Estudado, viajado, malhado, perfumado, tratado e bem dotado.

Minha amiga se considera uma mulher de sorte. Uma vez, quando ela disse isto para o terapeuta, ele respondeu que não era sorte, mas competência. Ela contestou. É sorte.

Foi a sorte que proporcionou que minha amiga e este cara se encontrassem, mas foi o interesse de Fernanda que os aproximou. Por sorte, ele topou. Ele era um perigo, mas ela encarou.

O romance continua, com Fernanda mantendo uma prudente distância. Não basta ter sorte, tem que ter competência.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Trocas

Buchinha na mão, calcinha no chão. Assim era o sexo no tempo da cocaína, diz um amigo de Carol. Assim ainda é o sexo, pensam outros, só trocando a buchinha por outro atrativo qualquer. Eu tenho o que elas querem e elas têm o que eu quero, já lhe disse um outro.

Carol não se identifica com este tipo de relacionamento, mas acha que tudo faz parte das trocas que homens e mulheres estabelecem, às vezes distorcidas, às vezes verdadeiras, às vezes distorcidas de forma verdadeira, são praticamente inesgotáveis as possibilidades.

Carol tenta estabelecer trocas sinceras, mas acha que às vezes os homens preferem a mentira. Bem, sempre há o recurso das mentiras sinceras. Será que esta é a chave para o equilíbrio da humanidade?

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Quase

Ela achava que nunca mais ia se apaixonar na vida. Achava não; tinha certeza. Por isso, ainda resistia a acreditar no que estava acontecendo. Ela estava (quase) se apaixonando. Por dois.

Minha amiga tem esta sina; tudo na vida dela é meio diferente. Ela está apaixonada por dois e em paz com este sentimento. Ela se sente feliz com eles e ninguém vai convencê-la de que isto está errado.

São homens totalmente diferentes, mas que têm em comum a inteligência, o senso de humor e a paudurescência, como diria o Lobão, pra vida. Combinação (quase) fatal.

sábado, 18 de abril de 2009

Mais

Minha amiga não consegue esquecer as taças. Nem o dono das taças, dono também de uns braços maravilhosos. Assim como as taças, são os braços mais belos que minha amiga tem deitado.

Ela gosta de braços fortes, tanto em mulheres como em homens. Quer ficar com os braços da Madonna e ningúem entende. Seus amigos e amigas acham os braços da Madonna horríveis. Ela os acha lindos.

Só que parece que o homem de braços poderosos também quer mais no sexo. Minha amiga não entende, mas de uma hora pra outra parece que todos os homens passaram a lhe exigir isto.

Ela acha isto uma injustiça. Quando ela transa com eles rola tesão, pico de tesão, orgasmo, cansaço, sono, tudo normal. Talvez seja mais legal pra ela do que pra eles, por isso eles querem mais. Ou talvez eles queiram mais porque homem tem esta mania de sempre querer mais. Ou talvez eles tenham uma idéia diferente do sexo, para eles uma coisa perto do espetáculo; para ela uma coisa perto da vida real.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Quebrar

A noite ainda estava no meio quando as taças foram quebradas. Tiveram que continuar a champanhe em copos, no bico, minha amiga não lembra direito. Só lembra que continuaram bebendo.

Da cozinha foram para o pátio, voltaram pra cozinha e foram para o quarto. Foi nesta volta pra cozinha que as taças quebraram. Ela acha que o cara a sentou na mesa, ela desequilibrou e as taças caíram. Mas não tem certeza.

Eram as taças mais chiques que minha amiga já tinha visto. Daquelas tri altas. Elegantes, sofisticadas e perfeitas. Mas quebram.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Bunda

O desespero em manter a bunda dura levou Betina a detonar o joelho. Nem assim, ela está arrependida. É capaz de quase tudo se a perspectiva for arredondar, enrijecer e levantar a sua bunda.

Betina tem a impressão que capitular à flacidez da bunda tem o significado quântico de se entregar, no mal sentido da palavra. E ela tem tanto pavor de ficar com a bunda caída quanto tem de se entregar, no melhor sentido da palavra.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

E resolver

Eu estava quieta no meu quarto, escrevendo, pensando, quando o meu filho entrou feliz. Tinha resolvido um cálculo matemático complicado, que levou tempo pra ser solucionado. E era o problema número 1. Se não encontrasse a resposta, ele não conseguria fazer os outros, que dependiam do resultado do primeiro.

Perguntei o que ele teve que calcular e ele me disse: o inverso do logarítimo negativo de 10 elevado a 1.7. Eu achei que tinha ouvido ou entendido mal mas ele repetiu:o inverso do logarítimo negativo de 10 elevado a 1.7.

Eu simplesmente não tenho a menor idéia do que ele está falando. Taí uma coisa que nunca entrou na lista das minhas resoluções.

Resolver

Hoje a coisa foi foda. Logo depois de um feriadão, Inês teve um monte de coisas pra fazer, a maioria (todas?) coisas chatas. Pra variar, muitas foram repasadas para amanhã ou depois, mas todas terão que ser cumpridas.

Minha amiga acha esta rotina de compromissos diários um saco e eu concordo com ela. É um absurdo a quantidade de tempo que a gente perde resolvendo pequenos probleminhas (é, pelo menos são pequenos)e a quantidade ainda maior de tempo que a gente perde se não resolver.

Dentro da cabeça de Inês cresce a vontade de não resolver mais nada. De deixar o barco correr sem nenhum tipo de interferência. De esquecer as obrigações. De mandar tomar no cu as convenções. E de, talvez, abrir espaço às paixões.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Iguais

O cara insistiu e ganhou. Era mais ou menos assim que Marina se sentia em relação ao um romance que estava rolando. Se bem que o cara não insistiu tanto assim. Na segunda investida, já levou.

O cara surpreendeu. Marina achou que não passaria da primeira transa, mas os encontros continuaram e se tornaram frequentes. E não foi por causa da primeira transa. Nesta vez, a incompatibilidade de gênios foi total.

O cara é inteligente (a maldita libido intelectual), gosta de mulher (baita qualidade), é sedutor sem ser mulherzinha, tem sexappel e a tal incompatibilidade sexual é cada vez mais rara. Eles tem jeitos diferentes de transar, mas ele se adaptou ao dela e o sexo cresceu. Pra ela, do jeito que tá, tá ótimo. Ele já anunciou que está esperando mais.

O cara é tudo isso mas também é controlador, espaçoso, possessivo, muito mais velho, exigente. Que merda!, se irrita Marina. Quando aparece um cara que ela gosta tem todos estes problemas.

Ela se lembra que todos os homens que a interessaram no decorrer da vida eram mais ou menos assim.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Explicação

Na mesma semana, com um dia de diferença, Diana perdeu o namorado e o personal treiner. O namorado ela já esperava e até queria, mas o professor foi um baque.

O namorado, desta vez, resolveu dar explicações. Logo desta vez que ela não queria ouvir, não por arrogância mas por puro cansaço.

Deixar de amar algúem não tem explicação. Pelo menos, definitiva. A gente acha que deixou de amar por este ou aquele motivo e isto vai se transformando com o tempo. Às vezes, a gente nunca entende por que o amor terminou. Muito menos por que começou.

Já o personal foi embora sem dar maiores explicações. Mas Diana intui que tem a ver com um amor que acabou e outro que está para começar.