quarta-feira, 30 de março de 2011
Sincericídio
Depois de anos lutando contra a baixa autoestima, Carla vive um momento egotrip total; ela se acha ótima mãe, ótima irmã, ótima tia, ótima amiga, ótima patroa, ótima profissional. Como ela tem por base o senso comum, este ótimo não é tão ótimo assim. É que as referências, realmente, têm pouca ou nenhuma qualidade.
Carla nota que faltou ótima mulher na lista das suas virtudes. No fundo, ela também se acha uma ótima mulher mas, ela precisa admitir, há controvérsias. Melhor deixar fora da lista, que já está de bom tamanho. Boa profissional, talvez, também seja questionável se agüentar desaforo for um requisito.
Enquanto a autoestima de Carla se encontra acima da média, diminuiu sua paciência com os defeitos da humanidade. É como se tivesse esgotado sua cota de sapos engolidos, egípcias e representações. Mesmo dura, e às vezes estranha, Carla gostaria de exercitar mais a verdade.
quarta-feira, 23 de março de 2011
Irrelevâncias
Vivian achava que a Liz Taylor nunca ia morrer e isto, de certa forma, dava alguma esperança de eternidade, mas hoje isto se desfez mais uma vez e mais uma vez ela se dá conta de como tudo é irrelevante diante do fim.
Ela teve um dia arrastado, onde precisou tirar energia não sabe de onde para deixar o mínimo possível pra amanhã. Por que não deixar pra depois? Porque depois as coisas se acumulam. Azar. Aí vira um caos. Aperta o botão do foda-se. O problema é que, quando opta por esta solução, geralmente a única pessoa que se fode é a própria Vivian.
Vivian tem uma vida legal, mas regrada por obrigações que ela gostaria de se desincumbir. Se fosse uma pessoa mais livre, Vivian tem certeza que seria mais feliz. Ter que passar 12 horas diárias fora de casa, seja trabalhando, no trânsito, na academia, no super, pagando contas, pra ela é algo cada vez mais sem sentido se ela pensar naquilo que ela gosta de fazer.
Agora, por exemplo, Vivian pensa, inconformada, que ainda precisa escovar os dentes, lavar o rosto e passar o kit noturno de cremes anti-rugas. Seria bem mais fácil se atirar em algum espaço da cama e dormir mas, uma falha no seu espírito anárquico, ela gosta de tirar 10 com estrelinha no final do dia.
sábado, 12 de março de 2011
Sábado à noite
Vendo minha norinha e suas amigas falando com verdadeira aversão dos pelos e cabelos dos guris, pergunto ingenuamente:
- Vocês não gostam de homem cabeludo?
Meu filho responde antes delas:
- Luciane, nem todo mundo foi jovem nos anos 70.
Elas também me explicam porque não gostam da barba e do cavanhaque de um determinado cara:
- A barba parece uma virilha e o cavanhaque uma vagina...
Do alto da minha experiência, confesso que nunca tinha visto alguém relacionar um dos principais símbolos masculinos com partes íntimas femininas, mas o que me intriga é que quando eu penso em barba, cavanhaque, virilha e vagina, eu só consigo imaginar coisa boa. Vai ver eu tô ficando uma senhora assanhada.
terça-feira, 8 de março de 2011
Histórias de carnaval
Érica sabe que seu sentimento não é dos mais nobres, mas ela gostaria de espalhar para o mundo inteiro o que Fábio disse de Márcia, uma das suas ex-namoradas:
- A trepada não é tudo isto
Se ela não tivesse ouvido do próprio Fábio, Érica não acreditaria que ele tinha exposto a guria desta forma. Não é do feitio de Fábio falar mal de ex-namoradas; pelo contrário, ele dá a entender que gosta de todas, ainda transa com algumas e todas são super legais. Mas a Márcia ele não perdoou. Esta, para ele, é louca de atar e ruim de cama.
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Érica também é louca – daquelas que atar é insuficiente para conter - mas o sexo com Fábio ela coloca na categoria daquelas coisas inexplicáveis da vida, a cada transa ela se sente a pessoa mais especial do mundo, aquela que foi compensada pelo privilégio de desfrutar o encontro da combinação perfeita.
Assim foi o carnaval; sexo em meio a garrafas de champanhe, frutas da estação e chocolates. Parece mentira, mas eu tenho certeza de que a Érica está falando a verdade. Talvez exagerando um pouco, não são garrafas, mas taças, as frutas foram um pêssego e um punhado de uvas e um bis na segunda e um batom na terça mataram sua vontade de comer chocolate. Mas nenhum exagero será suficiente se ela resolver contar o que rolou.
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