sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sempre


Parecia que esta sexta-feira não ia chegar nunca, mas, finalmente, Ivana agora está em casa, quarto quente, cama e corpo também.

Semana arrastada, que a boa fase emocional de Ivana ajudou a encarar. Ela teve que enfrentar assédio moral de um chefe, exames médicos invasivos, a brigada militar na porta da sua casa e, quando nada poderia ser pior, a faxineira não apareceu nem ligou.

Sem alternativa mais eficaz e menos indolor, Ivana ligou o botão do foda-se e foi em frente, abrindo caminho entre os problemas, se impondo sobre as adversidades. Maluquez e lucidez disputando espaço. Como sempre.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Analógicos


Dia dos namorados chegando e Laís resolve se animar; hoje comprou uma langerie que ficou tão linda que minha amiga acha que terá um efeito erótico maior sobre ela do que sobre o namorado. Ele não liga muito pra estas coisas, ela também não, mas resolveu entrar na onda e dar a famosa apimentada na relação.

Pergunto se Laís tá passando por alguma crise sexual com o namorado, ela responde que não, que só quer se divertir e a mini calcinha é só um plus a mais que jamais substituiria a champanhe, esta sim fundamental.

Praticante assumida do sexo analógico, Laís me conta que tirou uma foto vestida com a calcinha e mandou um torpedo para o namorado, que está viajando. Está orgulhosa do seu avanço no mundo do cibersexo, mas muito mais feliz com o trabalho do seu personal trainer, que levou a sério sua súplica de prioridade absoluta à bunda. Sem ele, não teria calcinha, foto, nem bunda. Ainda bem que nenhum dos dois liga muito pra estas coisas.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Mesmo que mude...



Este ano, Renata acha que vai conseguir enfrentar o inverno sem brigar tanto com o frio. O ano passado foi muito difícil; a coisa já tava complicada e a umidade não ajudou em nada. Se pudesse escolher, Renata nunca sofreria no inverno. Sofrer na frente do mar é bem melhor do que meio do vento, da chuva e do cinza.

Renata não gosta do inverno. Seus filhos nasceram no verão, sua mãe e seu pai morreram no inverno. É a primeira vez que ela faz esta associação. Ela lembra bem o frio que estava fazendo nas duas vezes e talvez tenha iníciado aí sua intolerância a temperaturas inferiores a 20º.

Renata acha geada a coisa mais desagradável do mundo, mas não sai de Porto Alegre, aliás, não sai nem das imediações do bairro onde nasceu. O espírito criativo-nervoso de Renata frequentemente é vencido pelo conservadorismo e mudanças são adiadas, abortadas ou esquecidas. Falta de coragem ou instinto de sobrevivência? Um medo saudável do desconhecido ou uma covardia diante do novo? Renata não faz questão de encontrar respostas, mas acha que lutar contra as vantagens da estabilidade é tão sem sentido quanto lutar contra o frio.