As histórias são na primeira pessoa, mas não quer dizer que sou eu. Pode ser com qualquer um, mas são verdadeiras.
Não tá fácil encontrar posição. Computador em cima na cama e a gente meio sentada, meio deitada, meio de lado, não é lá muito confortável. O teclado também não tá ajudando, acho que tá desconfigurado, mas o fato é que os acentos não estão nas teclas indicadas. Mas o que aconteceu hoje precisa ser contado. E juro; é tudo verdade.
Eu tava com um cara que eu vinha saindo há uns meses e tocou o telefone. Não era a primeira vez que a gente tava junto, na minha casa, e o telefone tocava; às vezes o celular dele, às vezes o meu convencional. Quando era no convencional, ninguém falava nada; no celular às vezes ele falava.
Eu sempre achei que isto era coisa de mulher, é óbvio. Mas a situação foi chata e cômica; meio divertido, mas eu tenho que admitir que fiquei com um certo medo.
Pra resumir a coisa, ele tava aqui e tocou o telefone; atendi e ninguém falou nada. Na segunda vez, eu falei pra ele atender porque eu achava que era a mulher dele, disse meio de brincadeira. Ninguém respondeu de novo. Na terceira vez, atendi e a voz disse que queria falar com o Paulo, vamos chamá-lo assim. Eu passei o gancho, eles conversaram, se não me engano vi ele concordando com ela. Quando ele ia desligar, peguei o telefone para falar com a mulher. Ela me disse que era mulher dele há quatro anos, que ele era um baita salafrário e que tinha acabado com a vida dela.
A conversa continuou. A gente falando e o cara ali, parado, apavorado. Eu me desculpando com a mulher, dizendo que não sabia que ele casado; ela me chamando de sem-vergonha. Lá pelas tantas, a mulher me disse que o cara tentou matá-la. Aí, sim, eu comecei a ficar com medo. Pedi pro cara ir embora e a pinta ali me perguntado – o que ela te falou? Pegou e desligou o telefone enquanto eu tava falando com a mulher e aumentou o meu medo. Abri a porta e chamei o elevador; fui obrigada a descer junto para abrir a porta. No elevador, tarde da noite e só nós dois, o cara começa a abrir a mochila e aí eu penso que ele vai pegar a faca, o revolver, o canivete e ele pega o cigarro. Abro a porta do edifício, dou tchau e subo correndo e mais calma por estar sozinha.
Detalhe: durante todo o tempo, o cara negou que era casado. Ele não chegou no auge de dizer que não conhecia a mulher, mas, é lógico, disse que ela era uma louca.
Outro detalhe: quando eu voltei, o telefone tava tocando de novo. Atendi e fiquei conversando com a mulher. Desta vez, sem o cara para nos interromper.
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