Bendito câncer que fez eu entender que tu me amas. Foi assim que meu pai de despediu de mim após quatro meses de um forçado convívio diário no hospital. Nunca a gente tinha ficado tão perto. E pela primeira vez admiti que poderia perdoá-lo.
Meu pai era um fraco e passei por diversos divãs para aceitar que eu tinha tido este azar. Os consultórios, porém, não me livraram de uma assumida queda por homens que misturam narcisismo e baixa auto-estima em doses que têm capacidade de destruir até o ego de alvenaria do porquinho Prático.
Meu pai morreu num daqueles dias de inverno que faz a gente implorar pelo calor. Junto com ele tentei enterrar nossa história de desamor. Mas por muitos anos pensei se aquela frase do bendito câncer não foi seu recurso cênico final para morrer com a certeza que eu o tinha perdoado.
Uma frase premeditada, dita minutos antes de morrer. Meu pai seria capaz de ser tão manipulador? Acrescentar uma carga dramática extra à sua morte só para fomentar a minha culpa? Hoje, eu tenho certeza que foi um ato de generosidade com a intenção sincera de me libertar de qualquer culpa. Meu pai conseguiu me surpreender até no final, quando eu não esperava nada mais dele
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