segunda-feira, 23 de maio de 2011
dolce far niente
Na falta de uma cerveja sem álcool, Ângela toma uma Polar sem reclamar, sozinha em casa, coisa rara, tomar uma cerveja sozinha em casa, na cama, ar-condicionado ligado e tudo o que ela precisa por perto. Vida boa, ela agradece ao mundo e ao antidepressivo.
Ângela vive uma tranqüilidade atípica. Tá certo que isto deve fazer uma semana, ou menos, e amanhã alguma coisa pode desabar. Ela tem pouca experiência com a serenidade, mas treinamento de guerra para sobreviver em terremotos. Ângela se educou para enfrentar o pior e sempre desconfiou de alegrias inexplicáveis. Ser feliz é coisa de burro, dizem os desesperançados mais convictos.
Apesar de simpatizar com o sentido da frase, Ângela decretou moratória dos questionamentos existenciais. Pensar menos é mais simples; envolve menos sentimento. Há dias seu sismógrafo interno não registra nenhuma alteração. Melhor evitar qualquer provocação.
domingo, 1 de maio de 2011
Coragem
É tarde e Kátia já deveria estar dormindo. Amanhã o dia vai ser pra lá de puxado e, provavelmente, ela vai sentir os excessos de hoje. Um amigo usa uma expressão precisa pra descrever o ânimo de Kátia quando bate o cansaço; segundo ele, o superego cansa primeiro e ela começa a ficar perigosa. E amanhã o superego vai ter que estar 100%.
Ela não se acha uma mulher perigosa, mas até entende que outros superestimem sua periculosidade num primeiro momento. Depois sempre fica claro que Kátia não pretende incomodar ninguém desde que, é óbvio, não seja incomodada também. Várias vezes esta regra é quebrada e Kátia, mesmo provocada, fica na dela e consente. Poucas vezes ela parte para o ataque ou o para o revide. Mesmo assim, minha amiga carrega a fama de intransigente. Não basta se submeter quase sempre; a obediência tem que ser total.
Durante sua vida, Kátia elegeu um grupo de princípios dos quais ela não tinha disposição de transigir. Verdade seja dita, a lista já diminui bastante. Um dos poucos que restou foi a coragem, que, intuitiva, foi transformada em dever existencial. Kátia foi uma criança corajosa, uma jovem corajosa e não admite se tornar uma velha covarde. Uma certa coerência ela ainda gosta de guardar.
a foto é de um cartaz de 1982, da campanha a vereador do zezinho e foi tirada há umas duas semanas em Pelotas, num seminário sobre o movimento estudantil.
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