domingo, 1 de maio de 2011

Coragem



É tarde e Kátia já deveria estar dormindo. Amanhã o dia vai ser pra lá de puxado e, provavelmente, ela vai sentir os excessos de hoje. Um amigo usa uma expressão precisa pra descrever o ânimo de Kátia quando bate o cansaço; segundo ele, o superego cansa primeiro e ela começa a ficar perigosa. E amanhã o superego vai ter que estar 100%.

Ela não se acha uma mulher perigosa, mas até entende que outros superestimem sua periculosidade num primeiro momento. Depois sempre fica claro que Kátia não pretende incomodar ninguém desde que, é óbvio, não seja incomodada também. Várias vezes esta regra é quebrada e Kátia, mesmo provocada, fica na dela e consente. Poucas vezes ela parte para o ataque ou o para o revide. Mesmo assim, minha amiga carrega a fama de intransigente. Não basta se submeter quase sempre; a obediência tem que ser total.

Durante sua vida, Kátia elegeu um grupo de princípios dos quais ela não tinha disposição de transigir. Verdade seja dita, a lista já diminui bastante. Um dos poucos que restou foi a coragem, que, intuitiva, foi transformada em dever existencial. Kátia foi uma criança corajosa, uma jovem corajosa e não admite se tornar uma velha covarde. Uma certa coerência ela ainda gosta de guardar.

a foto é de um cartaz de 1982, da campanha a vereador do zezinho e foi tirada há umas duas semanas em Pelotas, num seminário sobre o movimento estudantil.

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